terça-feira, 8 de outubro de 2013

A felicidade dos pais está desaparecendo?

Existe atualmente uma conversa nas escolas, nos atendimentos clínicos e até mesmo em momentos informais entre amigos, que preocupa a todos nós, é a questão da felicidade. Será que a satisfação com o casamento, a alegria com o trabalho e a paz com os filhos é algo que tem tomado dimensões não desejadas?
Vejamos. Em um primeiro momento, se a  resposta for dada rapidamente, provavelmente muitos dirão que não estão infelizes, de forma alguma, ao contrário, dirão que apesar de todas as dificuldades do cotidiano são felizes, amam sua família, filhos, etc.
Estou usando a palavra felicidade como antônimo do que tenho ouvido de muitas famílias, nesse sentido creio que entenderão melhor a minha proposta reflexiva de hoje . Os desabafos e compartilhamentos de dores, tristezas, preocupações e, o mais frequente: o cansaço, apontam de fato para um distanciamento da felicidade, não acham? Por isso disse logo no início, não trato aqui da felicidade de modo geral, pois essa, com certeza, se bem analisada, se colocada na balança, não deixa de existir, mesmo com os problemas, é claro, mas, o que ressalto é: a felicidade não tem sido muito pequena no dia a dia de várias pessoas?
E sabem do que mais? Grande parte das famílias relata que o maior limitador da paz e da tranquilidade no dia a dia é o acúmulo de funções, que logo vem seguido da queixa sobre cansaço. Resolvi falar disso após ler algumas matérias sobre o assunto, tanto em revistas, como na internet e, principalmente, após um encontro de estudo virtual, realizado em São Paulo, semana passada, de psicanálise sobre pais e filhos na contemporaneidade, onde muito falou-se sobre a família e seus desafios.
O instrutor do encontro muito sabiamente tratou da questão da democratização da função paterna. Fez toda uma abordagem mostrando que alguns alguns autores abordam este tema utilizando o conceito declínio da função paterna (já escrevi sobre isso aqui no blog), mas ele chama de democratização do falo (poder), apontando para o fato das lutas femininas pelo alcance de algumas igualdades que antigamente eram comuns apenas aos homens. Gostei bastante da forma como o assunto foi tratado, pois sem buscar razões únicas, ou verdades prontas, e muito menos técnicas clínicas a serem aplicadas, o encontro tocou em um conteúdo que é sim preocupante e diz respeito a muitas famílias. E ainda digo mais: o assunto tem extrema relação com felicidade, cansaço, acúmulo de funções, etc.
A ida da mulher ao mercado de trabalho tem relações diretas com o novo modo de ser das crianças. Não falo como alguém de fora, que apenas a situação, ao contrário, escrevo e reflito o tema como alguém que também vive o mesmo contexto. O caso não é regredir e deixar de trabalhar, já sabemos disso, creio. Este é um assunto que toda hora encontramos em revistas de beleza, de moda, e nas publicações mais relacionadas às famílias. As adaptações é que precisam acontecer. Se queremos (pais e mães) trabalhar e constituir famílias, precisamos colocar em prática a maturidade necessária para ambos os desafios, pois como bem nos lembra Içami Tiba: “existe um paradoxo: a mulher se emancipou para seu próprio infortúnio. Trabalha fora mas mantém os mesmos afazeres que antes”. Não seria este pensamento um caminho interessante de reflexão?
Graças a Deus, na matéria em que li este trecho do Içami Tiba, em uma revista de psicologia, escrita por Denise Berto, logo em seguida ele mesmo diz que não era para ser assim. Pais e mães deveriam ter divido melhor os papéis. Agora sim chegamos no eixo central do post.
Que bacana ver o crescimento de matérias e estudos que analisam a importância da divisão bem estabelecida entre pais e mães. Essa dimensão sim, é capaz de resultados que restabeleçam a felicidade diária. Nenhuma família consegue resultados tão bons, a longo e curto prazo, comparados aos que conseguem obter quando de fato dividem melhor as tarefas e funções do cotidiano. Há alguns meses escrevi um artigo sobre uma matéria que contava a história de um autor americano que resolveu transformar em livro sua busca por uma família organizada como uma grande equipe, eficaz e colaborativa, onde todos se sentem responsáveis por tudo que diz respeito à família. Será que lembram desse post? Qualquer hora republico. Vejo um potencial gigantesco neste assunto em relação ao reencontro ou manutenção constante da felicidade.
O fato da família se sentir unida, com objetivos e metas a serem alcançadas em conjunto possui dimensões positivas imensuráveis para muitos e muitos anos. Aqui esbarra minha reflexão maior: creio que grande parte de nós não aprendeu com as gerações passadas a ter uma família em sentido de equipe/grupo. Aprendemos MUITAS coisas também imensuráveis, aprendizagens maravilhosas com nossos pais, mas não fizemos parte de uma geração com as mesmas características de constituição familiar de hoje. Pelo menos com grande parte das pessoas ao meu redor essa é uma realidade. Ou seja, além de todos os desafios que já temos, estamos construindo por erros e acertos novos modos de manter nossas famílias e viver o cotidiano. Desafio delicado, pois trata da formação de novas gerações.
Muitas mães confessam que percebem em si mesmas uma liderança tão grande que acabam por sua própria culpa levando-as a assumir tarefas familiares bem além do que são capazes. Não capazes no sentido de aguentar fazer tudo, mas no sentido de cumprir tudo e conseguir não sentir pura exaustão. Certamente é ela, a exaustão, a responsável nos dias de hoje por muitos avanços não alcançados. Lembram do post recente sobre o frequente ponto emocional de explosão e suas perigosas consequências para a vida familiar e escolar dos filhos? Não faz sentido a reflexão de hoje e esta anterior?
O que temos feito com o novo modo de estruturação familiar? Como temos nos dividido como família? Que desequilíbrios temos cometidos e que podem ser evitados com maior participação de cada membro da família? Que compromissos a mais temos assumido e que não deveríamos fazê-lo? Como temos refletido sobre a importância das diferentes funções paternas e maternas na formação dos filhos?
Vanessa Soares

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